Complexidade e morosidade na investigação da adquirente InovePay/Adiq deixam lojistas do setor de material de construção no prejuízo

Anamaco InvestigaçãoInovePay BLOG

A operação Concierge, deflagrada pela Polícia Federal em 28 de agosto de 2024, revelou um suposto esquema bilionário de fraudes financeiras envolvendo a fintech InovePay. O presidente da empresa, Patrick Bezerra Burnett, foi preso durante a ação, que também resultou na detenção de outras 13 pessoas em cidades de São Paulo e Minas Gerais. A investigação aponta que máquinas de cartão da InovePay foram supostamente utilizadas por empresas de fachada e pessoas ligadas ao tráfico de drogas. O caso gerou um impacto significativo no setor de material de construção, deixando lojistas sem acesso a valores bloqueados e enfrentando prejuízos milionários.

Dentre os atingidos, destaca-se a Açomix, empresa do Grupo Santiago, com 60 anos de atuação na área da construção civil, com 10 lojas na região metropolitana de Belo Horizonte (MG) e que amarga um prejuízo de aproximadamente R$ 1,5 milhão. A diretora da empresa, Marília Santiago, conversou com a Anamaco e compartilhou os desafios enfrentados, as medidas adotadas para lidar com a situação e a sensação de desamparo diante do cenário.

Investigação sobre máquina de cartão revela prejuízos

“Embarcamos nessa busca por taxas melhores, pois este é um mercado muito acirrado, em que tentamos, de todas as formas, reduzir custos. As taxas eram interessantes, e durante oito meses tudo funcionou normalmente, até que fomos surpreendidos com essa situação. O impacto no nosso fluxo de caixa foi enorme”, explicou a lojista. Apesar das dificuldades, ela destacou que a postura conservadora da empresa e a diversificação de áreas de atuação ajudaram o grupo a se manter.

Marília também lamentou a lentidão na resolução do caso e a mudança de magistrado responsável, o que resultou em atrasos no andamento do processo. “Estamos nos sentindo à deriva. Desde agosto, estamos lidando com prejuízos significativos e nenhuma perspectiva de solução”, desabafou.

Açomix
“Quando parece que a situação vai se resolver, voltamos à estaca zero”, Marília Santiago, diretora Açomix.

De acordo com informações da Polícia Federal, menos de 10% do volume total investigado envolvia atividades ilícitas, o que significa que a maioria das operações estava dentro da legalidade. “Nós fizemos tudo corretamente, apresentamos todas as notas fiscais, e mesmo assim estamos pagando um preço altíssimo. É decepcionante ver como a situação reflete a insegurança jurídica e institucional do Brasil”, afirmou.

A diretora da loja lesada destacou ainda a sensação de frustração com a falta de avanços concretos no caso. “Quando parece que a situação vai se resolver, voltamos à estaca zero. É como aquele jogador de vôlei que diz ‘deixa que eu deixo’, ninguém age, e a bola cai. Ficamos nessa situação de expectativa, com muita preocupação, porque já se passaram meses e nada evoluiu.”

Lojistas recorrem à justiça com ações individuais

Diante da gravidade do caso, os empresários foram orientados a buscar a Justiça de forma individualizada, e assim a Açomix seguiu essa recomendação no dia 10 de janeiro. “Pagamos todos os impostos, fornecedores, tudo o que devia ser feito. Não faz sentido abandonar algo que envolveu todos os nossos esforços. O dinheiro está lá, e nós precisamos ter acesso a ele!”, afirmou Marília, reforçando a importância da união do setor.

Para a empresária, mesmo que a ação seja individual, as empresas devem continuar lutando pelos seus direitos. “Unidos, temos mais força para vencer essa batalha e garantir justiça para todos os lojistas que estão sofrendo com essa situação”, destacou.

A Acomac Minas Gerais, localizada em uma das regiões onde as prisões foram deflagradas, é uma das mais impactadas pela situação. “Temos 520 associados, dos quais 16 firmaram parceria com a InovePay. Essa parceria começou em abril, e o número de adesões foi relativamente pequeno. No entanto, os prejuízos acumulados são enormes. “Somente em Minas Gerais estimamos um impacto de R$ 5 milhões para os lojistas”, declarou Ivens Ataíde, presidente da Acomac MG.

Em nota, os advogados da InovePay atribuíram à Adiq, adquirente responsável, a função de fiel depositário dos valores e de seu repasse aos estabelecimentos. Segundo a empresa, desde a data da suspensão, a InovePay não possui ingerência sobre os valores bloqueados em sua conta. A nota completa você confere na matéria “Suposta fraude da InovePay envolvendo milhões de reais impacta setor de material de construção” publicada no blog de notícias da Anamaco.

Lojistas tem apoio da Anamaco

A Anamaco tem acompanhado de perto a situação e se preocupa com o impacto para os lojistas. O presidente da entidade, Cassio Tucunduva, reforça: “É essencial que os prejuízos sejam ressarcidos e que os responsáveis ​​sejam responsabilizados para que o setor volte a operar com segurança e estabilidade.”

O suposto esquema financeiro fraudulento envolvendo a InovePay (I9Pay ou Inove Banco) resultou em prejuízos para 2.697 estabelecimentos comerciais de diversos setores. De acordo com Ricardo Augusto Marchi, da Marchi Advogados e representante da Federação Brasileira de Redes Associativistas de Materiais de Construção (Febramat), esse processo já acumulou mais de 65 mil páginas, incluindo 25 páginas de petições que detalham as irregularidades identificadas. O bloqueio das atividades da InovePay revelou uma suposta rede de operações financeiras irregulares, levantando suspeitas de gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, crime organizado e operações similares a uma pirâmide financeira.

A denúncia da falta de transparência nos pagamentos da Adiq, agrava ainda mais a situação. “Não sabemos ao certo onde está o dinheiro: se ficou com o Adiq, com o InovePay ou foi desviado. Além disso, o InovePay atuava como banco sem autorização, oferecendo serviços de antecipação de recursos, empréstimos e seguros”, afirma.

Ele explica que em meados de novembro, a Adiq se manifestou nos autos, informando que já havia feito os pagamentos referentes aos dias 28 e 29 de agosto e que, dos cerca de 47 milhões bloqueados, o restante foi adiantado para a InovePay. No entanto, constatou-se que o InovePay tinha apenas 18 milhões de reais na caixa. “Onde está o restante do dinheiro? Não temos esse número preciso, mas as estimativas indicam que o montante do rombo chegue a algo em torno de R$ 800 milhões”, ressalta Ricardo Marchi. “Um único empresário do setor de material de construção, em São Paulo, teria mais de R$ 5 milhões a receber”, disse.

O impacto no setor de material de construção

A relação da InovePay com o setor de material de construção teve início em abril de 2024. Uma parceria com benefícios promissores havia sido apresentada às entidades do setor, como à Fecomac SC, que representa 9.200 lojas. “Fomos surpreendidos em agosto, quando lojistas relataram que não conseguiam acessar o portal da operadora de cartão. As informações haviam desaparecido”, relatou Rodrigo Nandi, presidente da Fecomac SC.

De lá para cá, Rodrigo Nandi tem se reunido regularmente com representantes de onze Associações de Comerciantes de Material de Construção (Acomacs) dos estados de Santa Catarina, Espírito Santo, Minas Gerais e Paraná para buscar soluções e minimizar os prejuízos. “Esse setor é particularmente afetado por trabalhar com valores altos e prazos longos de parcelamento”. Ele exemplifica: “Uma loja que tinha R$ 2 milhões para receber contava com seu fluxo de caixa para que cerca de R$ 200 mil entrassem mensalmente. Mas o primeiro mês não entrou nada, o segundo também não, e agora já estamos há cinco meses nessa situação. Isso significa R$ 1 milhão de prejuízo acumulado. As mercadorias foram vendidas, os vendedores já receberam suas comissões, o governo já recolheu os impostos, mas o lojista não tem os recursos necessários para honrar seus compromissos.”

Posts Recentes